sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Anteontem eu estava me trocando, liguei a TV e estava no Telecine Premium. O filme: Última Parada 174. Eu assisti ao filme no cinema, mas acabei vendo a última meia hora de novo.
Não é um filme bom...ao contrário, é bem ruinzinho. Na verdade, eu acho que os idealizadores do filme deram um tiro no pé quando decidiram produzi-lo; se já existe um documentário primoroso sobre a história, qualquer obra de ficção teria que se esforçar muito para parecer boa.

"Ônibus 174", o documentário, esse sim é muito bom. Os mais inflamados no que diz respeito a questões ligadas à violência e à segurança pública certamente o detestarão. Isso porque pode haver a impressão de que o filme é uma defesa apaixonada do Sandro, na medida em que a história de sua vida é contada de maneira a explicar, em partes, como ele se transformou no que era. Odeio determinismo (aliás, a contracapa do DVD é péssima, e diz algo como "mostra como Sandro não poderia deixar de ser um criminoso), mas o filme mostra como a exposição à violência é um combustível e tanto para que a vítima também assuma condutas violentas. E não me refiro apenas à Chacina da Candelária, à qual sobreviveu o Sandro, mas a todo seu histórico de exposição às mais diferentes manifestações de violência.

Antes que alguém pense "Mas muitos são expostos à violência e não se tornam violentos!!", eu digo: verdade. Por isso mesmo, rechaço teses deterministas. Mas a vida, e o que fazemos dela, é o resultado de muitas decisões, acasos, pequenos lances de sorte, erros, acertos...e o seu background ajuda a moldar tudo isso, fato. Sobre essa questão da exposição à violência, a organização para a qual trabalho agora está desenvolvendo uma pesquisa bastante interessante em parceria com o Ministério da Justiça. O produto dessa pesquisa, grosso modo, é o chamado "Índice de Vulnerabilidade Juvenil".

O que mais me choca na história do sequestro do ônibus 174 é a frieza com que a morte do Sandro foi tratada. Falando da maneira mais clara possível: Sandro, rendido, foi assassinado dentro do camburão. E as pessoas ficaram meio: OKAY! Afinal, a polícia fez o que qualquer um faria naquele momento...Algumas considerações:
1. Eu não faria
2. A Polícia jamais poderia tê-lo feito

E é por isso que acho o documentário monumental. Ele vem colocar o dedo na ferida (clichê, I know) para dizer: tudo bem, vocês aplaudiram o assassinato do Sandro, mas agora vou contar algumas coisas sobre ele que vão deixar todo mundo de cabelo em pé. E é uma ironia enorme do destino que o Sandro tenha sido personagem, ora coadjuvante, ora principal, de duas das maiores atrocidades cometidas por policiais cariocas (melhor falar em policiais do que em Polícia, como corporação). A Chacina da Candelária, para mim, é um episódio inesquecível. Oito crianças e adolescentes assassinados na calada da noite por policiais. O estrago só não foi pior porque muitos estavam acordados e conseguiram fugir.

Daqui a três anos, serão 20 anos de Candelária. Eu gostaria de poder fazer algo pela memória desse episódio, porque acho que ele não pode cair no esquecimento jamais. Foi muito sério. E ninguém foi punido. Um dos sobreviventes acabou morrendo alguns anos depois, dentro de um camburão*. Outro, vive na Suíça, sob um programa de defesa de testemunhas, já que foi alvo de atentado semelhante pouco tempo depois.

É isso.

*NÃO acho que o que aconteceu com o Sandro foi consequência imediata do que aconteceu na Candelária, acho que ficou bem claro..

ps: Estou considerando muito seriamente fazer uma pós/especialização em segurança pública, mas na cidade de SP só há duas. Vou ver qualé a dessas duas.

Um comentário:

Anônimo disse...

Hmm, então você assistiu ao filme seminua