quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Começo com uma notícia para os internacionalistas, se é quem algum lê esse humilde brógui.

Aliás, se é quem algum dos internacionalistas que eu conheço tem interesse nessa notícia...:

http://www.bbc.co.uk/portugueseafrica/news/story/2010/02/100203_sudanbashiriccaws.shtml

Muito bem!

Falando em África, lembrei de um artigo bem longo mas também muito interessante que li há tempos atrás, sobre a Somália.

http://www.foreignpolicy.com/articles/2009/02/16/the_most_dangerous_place_in_the_world

É, o título é THE MOST DANGEROUS PLACE IN THE WORLD. É bem interessante. Eu sou meio doida da Somália (e de Ruanda, claro!), a história recente do país me instiga muito. É assustador como a Somália se desintegrou como Estado-nação e hoje é apenas um território controlado por clãs e onde a violência está muito além dos limites. Uma terra de ninguém, for real. Sem querer tirar a parcela de responsabilidade dos próprios somalianos por esse destino trágico – até porque isso os colocaria em uma posição de grandes vítimas incapazes de cuidar da própria vida e inimputáveis, o que é errado -, a Somália é mais um exemplo de país largado a própria sorte..E nesse caso, por um motivo bastante concreto, dentre outros: a morte de 18 soldados norte-americanos em 1993, durante a missão de paz da qual participavam. Aliás, essas 18 mortes ajudam a entender, em parte, porque tão pouco se fez para conter o genocídio em Ruanda enquanto a escalada em direção à cifra de OITOCENTOS MIL MORTOS estava no começo.

Pra quem tem interesse em Ruanda (CUMA?):

- Hotel Ruanda – mais blockbuster, mas é um bom filme! E conta a história de uma dessas pessoas que tinham mil defeitos e acabaram agindo como heróis, after all..

- Tiros em Ruanda (Shooting the Dogs) – bom também, as cenas finais fazem até o dono do mais duro coração chorar. E isso, vindo de mim, ok? E o porquê do nome em inglês é bem interessante, tem que ver o filme pra descobrir.

- Abril Sangrento (Sometimes in April) – é o mais “chatinho”, meio lento e com mais detalhes jurídicos no final, mas o enredo é bacana. Ponto de partida: dois irmãos, um que se alia aos hutus e o outro que tem a família massacrada pelos genocidas. O irmão que se alia aos hutus vai a julgamento no tribunal ad hoc criado pela ONU para julgar os crimes de guerra em Ruanda.

Essa história de países largados à própria sorte me faz pensar muito no Haiti. Acho incrível toda essa solidariedade internacional para reconstruir o país depois do terremoto. Mas me digam, que país é esse que vão reconstruir? É a mesma lógica das missões de peacekeeping da ONU. Que peace existe to keep? Chamar de operações de peacekeeping muitas dessas intervenções é uma hipocrisia, porque elas chegam a países mergulhados no caos e sequer conseguem controlar a violência que encontram ali. O que a MINUSTAH fez no Haiti foi peacebuilding, e vão ter que fazer de novo, porque a violência está explodindo novamente. Parece que fez bem, mas aproximadamente 5.500 presos fugiram da penitenciária de Porto Príncipe após o terremoto, e já estão se reorganizando em gangues conhecidas pela brutalidade com que agiam. É claro que grande parte deles, senão a maior, foram presos por terem cometido crimes de baixo potencial ofensivo. Mas a pobreza e o desemprego tendem a crescer ainda mais, e aí é só juntar 2 e 2 para dar 4. É um barril de pólvora, sem sombra de dúvida.

E fico pensando nisso, todos esses bilhões servirão para fazer um remendo nos buracos que o terremoto deixou, mas o Haiti continuará sendo “a África das Américas”, “o país mais pobre das Américas”, e por aí vai. É claro que não há uma resposta fácil. Esse lance de ajuda internacional é muito, muito, muito complexo. Quando penso que quero trabalhar com isso, fico em crise também. Há uma gama bem extensa de autores que acreditam que a ajuda internacional, DA MANEIRA COMO FOI FEITA, condenou a África à estagnação. Eu não curto muito essa linha de argumentação na medida em que ela tira dos africanos o papel de protagonistas de sua própria história, parece que os países ricos são, after all, culpados por tudo. Mas muito do que esses autores dizem é verdade. A ajuda alimentou corruptos e não ajudou a criar infra-estrutura na maioria dos lugares para as quais foi direcionada, é um fato.

Eu ainda preciso estudar muito, ler demais, para poder, enfim, saber o que acho disso. Estou caminhando lentamente nessa direção. Tem um autor chamado William Easterly que escreveu um livro super crítico à ajuda, chamado “The White Man’s Burden: Why the West's Efforts to Aid the Rest Have Done So Much Ill and So Little Good”. É bem cáustico e ele menciona essas mega celebridades que se envolvem em causas humanitárias, se referindo ao U2 como “the White Man’s Band”.

Uma vez li uma entrevista com um pesquisador africano (tento lembrar a todo custo a nacionalidade dele, mas não consigo) que também é um grande crítico à ajuda internacional como a conhecemos hoje. Saiu nas Páginas Amarelas da Veja, bem improvável. Em um dado momento da entrevista, perguntam a ele sobre o famoso livro do Jeffrey Sachs, “O Fim da Pobreza”, e sobre o que ele acha do Sachs e tal. O livro é um clássico, bom ou ruim, sobre a ajuda internacional. O pesquisador menciona a solução proposta pelo Sachs para resolver o surto de malária em muitos países africanos. Não lembro a frase exata, mas ele disse algo como “Sachs sabe como foram resolvidas outras epidemias causadas por insetos em países fora da África, e sabe que não foram resolvidas simplesmente com mosquiteiros. Então, por que propõe essa solução para a África?”. Beeeeem interessante! Agora vou ver se acho essa entrevista no Google e tentar descobrir mais a respeito desse pesquisador/autor.

Caraca, eu ia falar duas linhas sobre África e escrever um pouco sobre Invictus, do Clint Eastwood. Mas esse post tá grande demais. Vou começar outro.

Tchau, tchau.

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